O Supremo Tribunal Federal julgou constitucional o sistema de cotas raciais,
adotado pela Universidade de Brasília desde 2003, o qual já vinha sendo
implementado por outras instituições públicas de ensino superior e que agora
poderá ampliar-se para todo o país. No último dia 3, em julgamento de outra
ação, o Tribunal permitiu as cotas sociais no Prouni, bem como o abatimento
tributário das instituições de ensino superior cadastradas no programa do
governo federal.
Como não poderia ser diferente, no caso das cotas raciais, a mídia elitista
reagiu negativamente à decisão do STF, alegando que o mais justo seria a adoção
de cotas sociais amparadas na renda das famílias dos estudantes. No entanto,
esta mesma tese, utilizada para fundamentar o projeto de lei que prevê cotas
para estudantes da escola pública nas universidades públicas, havia sido
contestada pela mídia que também promoveu lobby junto ao relator da matéria, o
quase ex-senador Demóstenes Torres, para que engavetasse o projeto, estando o
mesmo, por mais de dois anos, aguardando decisão de admissibilidade na Comissão
de Constituição e Justiça do Senado.
O debate de fundo sobre este tema consiste no compromisso das diferentes
classes sociais (e de seus representantes nos Executivos e Legislativos) em
combater as desigualdades históricas do Brasil. De um lado, as elites tentam, a
todo custo, manter o status quo de seus benefícios sobre um Estado
patrimonialista - que precisa ser superado - e, de outro, as classes populares
pressionam por democratização dos serviços públicos com a devida reparação da
dívida social. E como bem observou o ministro Carlos Ayres Brito, “não há outro
modo de concretizar o valor constitucional da igualdade senão pelo combate à
desigualdade”.
Para a CNTE, as políticas de cotas, sejam raciais ou sociais, devem ser
transitórias e estar conjugadas com a necessidade de expansão da oferta pública
de ensino superior e com os investimentos para a melhoria da qualidade na
educação básica. Não temos dúvidas sobre a importância das cotas no processo de
inclusão social e de combate às mazelas herdadas de nosso sistema escravocrata,
mas o que desejamos, de fato, é uma escola pública universal e de qualidade para
os brasileiros e brasileiras, em todos os níveis, etapas e modalidades.
Hoje, cerca de 2 milhões de estudantes terminam o ensino médio sem conseguir
ingressar na universidade. Embora o Prouni tenha contribuído para a inclusão das
camadas populares no ensino superior, em especial da população afrodescendente,
mais da metade das matrículas nesse nível de ensino ainda é de brancos, numa
sociedade majoritariamente composta de negros e pardos. Dentre as pessoas com
diploma superior, 15% são brancas, 4,7% negras e 5,3% pardas. Por outro lado, é
preciso também inverter a relação das matrículas nas instituições: 75%
particulares e apenas 25% públicas - e o projeto de PNE é tímido quanto à
expansão da oferta pública (prevê 30% ao final da década).
A CNTE se manterá alerta aos projetos de cotas no Congresso, e apoiará as
universidades que, autonomamente, aderirem ao sistema, ao mesmo tempo em que
continuará na luta por 10% do PIB para a educação e pela aprovação de uma
reforma tributária que privilegie a progressividade dos impostos e os
investimentos sociais, pois o país precisa acelerar sua trajetória de inclusão
para tornar-se referência não apenas econômica, mas também de democracia e de
igualdade social para o mundo.
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terça-feira, 8 de maio de 2012
A CONSTITUCIONALIDADE DAS COTAS NO ENSINO SUPERIOR
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